Queremos melhorar o atendimento? Então precisamos transformar as estruturas que o sustentam
Autora: Thirza Reis
No setor de atendimento, as mulheres são maioria na base e minoria no topo. Mas não é só o teto de vidro que impede a ascensão: é também o medo de se perder ao subir.
Ao acompanhar mulheres líderes, escuto uma dor recorrente: muitas não querem — ou não conseguem — avançar porque sentem que, para isso, precisarão sacrificar a própria vida. A ausência de exemplos reais de mulheres no poder que consigam manter uma vida saudável fora do trabalho alimenta essa crença. E isso nos custa caro.
Sem modelos possíveis, muitas desistem ou adoecem tentando se encaixar. E sem mentoras que apontem novos caminhos, a liderança feminina segue presa à lógica do esgotamento.
No atendimento, isso se reflete em equipes sobrecarregadas, ambientes pouco inspiradores e baixa retenção de talentos. Queremos melhorar o atendimento? Então precisamos transformar as estruturas que o sustentam. E, sendo as mulheres quem mais sofre com esse sistema, acredito fortemente que são elas as que também têm maior potencial de transformá-lo.
É aí que as mentorias assumem um papel fundamental. Não para ensinar um modelo pronto, mas para co-construir, com cada mulher, a liderança que ela deseja nutrir ao ocupar posições mais altas — e fortalecê-la para sustentar essas escolhas, mesmo que contraculturais. Uma liderança com coragem, presença e autoconhecimento. Focada em pessoas — não apenas em performance.
Mulheres no poder precisam de redes, não de pedestal. Quando uma mulher mentora outra, ela não apenas abre caminho: ela se torna instrumento de cura e sinaliza — “é possível chegar lá e continuar sendo você. Aliás, é preciso que você continue sendo você.”
E isso, sim, gera transformação social. E se torna motor para as próximas gerações.
Thirza Reis é psicóloga e mentora de líderes.