Ana Calçado, CEO da Wylinka

A transição energética começa na pesquisa e termina na sua conta de luz

A transição energética se consolida quando ciência, políticas públicas, investidores e cidadãos atuam de forma coordenada

Autora: Ana Calçado

O Brasil tem uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, mas o protagonismo global só virá quando ciência, mercado e políticas públicas andarem juntos, do laboratório até o poste da sua rua.

Em uma cidade no interior de Minas Gerais, dona Celina, agricultora de 63 anos, viu sua conta de luz cair pela metade. A mudança não veio de um subsídio ou obra pública, mas da instalação de um sistema solar com baterias inteligentes, financiado por uma startup de energia. A tecnologia utilizada foi desenvolvida na universidade e validada em um protótipo com apoio técnico, antes de chegar ao telhado dela. Hoje, abastece centenas de residências em comunidades com infraestrutura limitada.

Esse exemplo é ilustrativo, mas retrata uma realidade já em andamento. A fintech brasileira Enercred, por exemplo, financiou mais de 66 mil sistemas solares residenciais e planeja expandir para a região Amazônica até 2025. São soluções com impacto direto: famílias economizando e a transição energética saindo do discurso e chegando ao cotidiano.

O Brasil tem uma base privilegiada: 89% da eletricidade gerada em 2023 veio de fontes renováveis. Mas isso, por si só, não nos garante liderança. O protagonismo será definido pela capacidade de escalar soluções, criar tecnologias globais e resolver desigualdades internas, inclusive energéticas.

Essas tecnologias já existem, estão sendo testadas e têm aplicação prática. São o tipo de inovação que pode transformar o país não só em consumidor, mas em exportador de soluções climáticas e energéticas.

Competitividade verde em escala global

Essa base também nos reposiciona no cenário internacional. O Brasil começa a se tornar um destino estratégico para setores como os data centers verdes, altamente dependentes de eletricidade limpa e confiável. Nossa matriz não é apenas uma vantagem ambiental, ela representa competitividade.

Ao mesmo tempo, o ecossistema de inovação brasileiro se expande em múltiplas frentes: desde sensores para redes comunitárias até painéis solares integrados a baterias em cidades pequenas. As soluções não estão restritas aos grandes centros.

Os desafios são estruturais. A inovação de base científica exige tempo, investimento paciente e ambiente regulatório estável. O plano do governo federal que prevê mais de R$ 2 trilhões em investimentos em transição energética até 2033 é um avanço. Mas esse volume de recursos só se justifica se vier acompanhado de rotas claras para o uso, escalabilidade e viabilidade das tecnologias.

Da política ao poste: um novo modelo de país

A transição energética não se sustenta apenas em painéis solares ou parques eólicos. Ela se consolida quando ciência, políticas públicas, investidores e cidadãos atuam de forma coordenada. Ela começa no laboratório, passa por startups, chega aos lares e transforma rotinas.

Cada projeto que sai do papel, cada quilowatt vindo de fonte limpa, cada economia na conta de luz é um sinal de que o Brasil tem o que é preciso: talento, recursos e visão para liderar a próxima revolução energética. O futuro já começou, e ele é renovável.

Ana Calçado é CEO da Wylinka.

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