É hora de encarar a retaguarda como um território estratégico, pois a inovação em saúde não acontece só na assistência direta
Autor: Sérgio Bringel
Quando pensamos em atendimento em saúde, a imagem mais comum é a da linha de frente: médicos, enfermeiros, recepção, pronto-socorro. Mas a experiência do paciente — e sua segurança — começa antes disso, em processos que quase ninguém vê.
A retaguarda hospitalar é feita de operações silenciosas: a esterilização de instrumentais, a logística de materiais, a higiene dos ambientes, a infraestrutura que sustenta tudo. E, embora invisíveis ao olhar do paciente, essas engrenagens definem o sucesso (ou fracasso) de cada atendimento.
Infelizmente, o Brasil ainda convive com milhares de infecções hospitalares evitáveis. Em muitos casos, não se trata de erro humano, mas de falhas estruturais nos bastidores. Um instrumental mal esterilizado, um uniforme mal higienizado, um atraso no abastecimento — qualquer detalhe pode comprometer vidas.
É hora de encarar a retaguarda como um território estratégico. Inovação em saúde não acontece só na assistência direta. Muitas vezes, ela surge onde quase ninguém está olhando.
A proposta é simples e poderosa: transformar o bastidor em centro de excelência. Garantir que o atendimento não pare, mesmo quando o imprevisto acontece. Porque previsibilidade, segurança e continuidade são, sim, formas de cuidado.
O desafio do setor de saúde é deixar de olhar apenas para o que está visível. A verdadeira transformação exige processos confiáveis, infraestrutura robusta e decisões estratégicas que tratem os bastidores como protagonistas da qualidade assistencial.
No fim, o paciente talvez nunca saiba que o instrumental foi esterilizado em condições especiais ou que os insumos chegaram a tempo graças a uma logística precisa. Mas ele vai sentir os efeitos disso: menos riscos, mais segurança, melhor recuperação.
E é isso que importa. Porque o que não se vê também salva.
Sérgio Bringel é CEO do Grupo Bringel.