O novo cenário demanda intencionalidade, ou seja, cada conteúdo deve dialogar com os riscos específicos da função, ser entregue com metodologia adequada e produzir evidências de aprendizado
Autor: Rodrigo F. Santos
Segundo o levantamento Panorama do Treinamento e Desenvolvimento no Brasil 2024/2025, o investimento médio em T&D por colaborador cresceu 14%, atingindo R$ 1.222 em 2024. Mais do que um sinal de atenção ao desenvolvimento de pessoas, esse aumento revela um reposicionamento corporativo profundo: 89% das empresas já utilizam indicadores de eficácia para mensurar o impacto dos treinamentos, não por modismo, mas porque a legislação agora exige, e o mercado impõe.
O marco por trás dessa virada atende pelo nome de NR-1. A nova redação da Norma Regulamentadora nº 1, em vigor desde 2021 e reforçada por fiscalizações recentes, estabeleceu que capacitação em segurança e saúde no trabalho deve ser contínua, efetiva e adaptada ao perfil do trabalhador. O que antes era tratado como formalidade documental passou a ser uma exigência estruturante. Treinar é, hoje, uma obrigação legal, mas também um termômetro de maturidade organizacional.
A NR-1 exige que os treinamentos sejam planejados, registrados, rastreáveis e comprovadamente eficazes. Não basta mais aplicar um curso genérico, colher assinaturas e arquivar documentos. O novo cenário demanda intencionalidade, ou seja, cada conteúdo deve dialogar com os riscos específicos da função, ser entregue com metodologia adequada e produzir evidências de aprendizado. Essa é a nova régua da conformidade.
Mas a norma não age sozinha. Ela se alinha a um contexto em que as empresas estão sob pressão para demonstrar responsabilidade, não só jurídica, mas também ética, social e cultural. O capital humano se tornou central na equação do desempenho e o desenvolvimento contínuo, uma estratégia de perenidade. Em um mundo de mudanças rápidas, quem não aprende, adoece e quem não ensina, expõe-se a riscos que não são mais tolerados pelo mercado, pela sociedade ou pela lei.
Nesse sentido, a NR-1 não é apenas uma obrigação do setor de segurança do trabalho. Ela conecta áreas como RH, jurídico, compliance, operações e liderança a trabalharem juntas para construir trilhas de desenvolvimento com impacto real e ao fazer isso, redefine o que chamamos de cultura de aprendizagem: não mais uma prática desejável, mas uma base sobre a qual se constrói competitividade.
Empresas que encaram esse desafio não apenas se protegem de autuações, mas constroem times mais preparados, ambientes mais seguros e relações mais transparentes. Em um cenário de escassez de talentos, onde o valor percebido do colaborador passa pelo quanto ele sente que cresce dentro da organização, oferecer capacitação contínua e relevante é também uma forma de retenção e engajamento.
A atualização da NR-1, portanto, deve ser lida como um chamado: o de ressignificar o papel do conhecimento dentro das organizações. Treinar, hoje, é proteger. Mas também é preparar, engajar, evoluir É declarar que o colaborador não é apenas um executor de tarefas, mas um agente que precisa entender, decidir e responder com autonomia e consciência.
Em um mundo onde os riscos se multiplicam, a ignorância custa caro e o aprendizado, mais do que nunca, é lei.
Rodrigo F. Santos é CEO do Grupo Mop.