Gustavo Nascimento, diretor executivo de operações da Paschoalotto

Como a tecnologia pode ser desenhada para ouvir melhor o cliente

Automação com empatia é mais do que um avanço tecnológico, é um reposicionamento estratégico

Autor: Gustavo Nascimento 

Vivemos um tempo em que máquinas falam conosco o tempo todo. Pedimos informações a assistentes virtuais, tiramos dúvidas com chatbots, navegamos em centrais de atendimento digitais que sabem mais sobre nós do que muitos atendentes humanos. Mas, em meio a tanta sofisticação tecnológica, uma pergunta insiste em ecoar: a automação realmente nos ouve ou apenas nos responde?

É nesse espaço entre a eficiência e a escuta que se desenha o próximo grande desafio das empresas. A automação já provou ser capaz de reduzir custos e agilizar processos, mas, quando projetada sem empatia, falha em algo essencial: reconhecer o cliente como pessoa, não como dado e, nesse ponto, a lacuna não é tecnológica, é estratégica.

Segundo estudo global da PwC, 59% dos consumidores acreditam que as empresas perderam o “toque humano” ao migrar para soluções digitais. Não se trata de rejeição à tecnologia, mas ao modo como ela tem sido usada, como um escudo que afasta, e não como uma ponte que conecta.

Automatizar não deve ser confundido com desumanizar. Um sistema inteligente não precisa ser apenas uma engrenagem de respostas padronizadas, pode, e deve, ser construído para interpretar sentimentos, reconhecer sinais de frustração e oferecer alternativas personalizadas. É nesse ponto que a automação deixa de ser uma mera ferramenta operacional e se transforma em um dispositivo de escuta ativa em escala.

Modelos de atendimento que priorizam apenas a velocidade criam experiências superficiais, que reduzem o cliente apenas a uma demanda. Já aqueles desenhados para entender o contexto, interpretar nuances de linguagem e adaptar respostas demonstram algo raro: a consideração. A tecnologia, nesse caso, não substitui o humano, mas amplia sua capacidade de estar presente em múltiplos pontos de contato ao mesmo tempo.

O futuro da automação passa, portanto, pela integração entre eficiência e sensibilidade. Responder é necessário, mas ouvir é estratégico. E empresas que confundem esses dois verbos correm o risco de acelerar processos enquanto perdem relevância.

Empatia como vantagem competitiva

O cliente de hoje não se fideliza apenas por conveniência. Ele escolhe permanecer onde sente confiança e reconhecimento. O relatório Future of Customer Experience da Salesforce aponta que 88% dos consumidores afirmam que a experiência oferecida por uma empresa é tão importante quanto seus produtos ou serviços. Isso significa que, em muitos casos, a forma como uma companhia trata seu cliente pesa tanto quanto o que ela entrega.

Nesse contexto, empatia deixa de ser uma virtude abstrata para se tornar um ativo econômico. A capacidade de compreender emoções não ditas, antecipar necessidades e respeitar singularidades passa a diferenciar organizações em mercados saturados, onde preço e produto já não bastam.

Automação com empatia é, portanto, mais do que um avanço tecnológico, é um reposicionamento estratégico. Trata-se de escolher se a tecnologia será usada como barreira de proteção ou como plataforma de conexão. As empresas que fizerem a segunda escolha não estarão apenas resolvendo demandas em tempo recorde, estarão construindo algo que nenhuma máquina pode programar sozinha: confiança duradoura e centralidade no cliente.

Gustavo Nascimento é diretor executivo de operações da Paschoalotto.

Deixe um comentário

Rolar para cima