Tudo tem moldado uma nova forma de trabalho, um novo paradigma onde a IA é um colaborador que potencializa as habilidades humanas
Autora: Nicole Davila
A construção de soluções de Inteligência Artificial (IA) verdadeiramente eficazes envolve a centralidade do ser humano em todas as etapas do processo. Pelo menos essa é a aposta mais recente de diversos profissionais que atuam na área, como tive a oportunidade de ver no 9º World Summit AI (WSAI), evento que ocorreu em Amsterdam em outubro de 2025. Em uma expedição de estudos organizada pela Zup, conhecemos um pouco mais sobre como o ecossistema europeu tem discutido temas relacionados à IA.
A ideia de humanos se aliarem à IA para uma parceria colaborativa não é recente: em 2018 publicações já fomentavam a discussão sobre o tema, explorando os benefícios do trabalho conjunto entre pessoas e IA. Em pleno 2025, contudo, a discussão ganha mais força entre empresas e organizações à medida que agentes de IA baseados em modelos generativos se tornam populares. E o movimento deve seguir, já que segundo pesquisa recente do Gartner, uma tendência para 2026 e próximos anos são os sistemas multiagentes. Tudo isso molda uma nova forma de trabalho, um novo paradigma onde a IA é um colaborador que potencializa as habilidades humanas.
Durante painel sobre escalabilidade com IA agêntica no World Summit AI, Fergal Reid (CAIO da Intercom), Ellen Svanström (CDIO da H&M), Mariarosaria Taddeo (Professora na Universidade de Oxford) e Ramana Thumu (CTO da Expedia) exploraram os avanços dos agentes de IA, compartilhando suas percepções. Segundo os participantes, o equilíbrio entre autonomia dos agentes e controle humano é essencial para garantir confiabilidade, responsabilidade e valor prático. Para isso, a governança deve ser orquestrada e equipes precisam ser treinadas para a nova realidade, proporcionando mecanismos para criar uma relação de confiança entre humano e tecnologia.
Em outra palestra, Euro Beinat (Head Global de IA e Data Science do Grupo Prosus), complementa essa visão destacando o papel do modelo “bottom-up” de adoção. Essa estratégia incentiva que agentes de IA sejam criados para complementar e ampliar o trabalho humano, não substituí-lo, reforçando a ideia de inteligência colaborativa. Para Beinat, os agentes devem automatizar tarefas repetitivas, enquanto humanos supervisionam, refinam e tomam decisões críticas. Durante a fala, o palestrante ainda apresentou um modelo de “senioridade” dos agentes de IA, sugerindo uma organização de papéis para esses agentes onde o tipo de tarefa e acesso, assim como interação com pessoas, varia conforme criticidade do escopo. Por exemplo, um agente nível júnior pode recuperar informações de uma base de conhecimento e apresentar ao usuário, enquanto um agente nível sênior já tem habilidade de leitura e escrita em sistemas mais relevantes ao negócio.
Essas discussões remetem a dois conceitos importantes: “human centric design“, que foca nas necessidades, limitações e expectativas dos usuários que estão no centro das decisões de produto, promovendo usabilidade, confiança e adoção; e “human in the loop“, que reforça a importância da supervisão e intervenção humana em ciclos críticos, como treinamento, validação e operação dos modelos. A ideia desses conceitos é estabelecer práticas que assegurem que a IA atue de forma ética, transparente e alinhada aos valores organizacionais, onde a tecnologia acelera e potencializa, mas não substitui o julgamento e a responsabilidade humana.
Esse movimento leva a reflexão sobre o quanto os profissionais das mais diferentes áreas estão preparados para essa nova realidade. Nesse sentido, podemos apostar que dois temas se tornarão cada vez mais populares nos fóruns de discussão de IA nos próximos anos: workforce readiness (prontidão da força de trabalho) e leadership readiness (prontidão da liderança). Enquanto o primeiro busca alternativas para garantir que as pessoas de uma equipe tenham as habilidades, a cultura e a estrutura para adotar e maximizar o valor da AI, o segundo tema abrange como as lideranças podem se preparar para proporcionar o suporte necessário e guiar uma adoção efetiva de soluções de IA.
Com a consolidação da IA como importante recurso estratégico no ambiente corporativo, a colaboração inteligente entre humanos e IA pode representar um diferencial competitivo. Organizações que investirem em prontidão multimodal das pessoas nesse novo paradigma, promovendo aprendizado contínuo, governança e cultura orientada a IA, estarão mais bem posicionadas para capturar valor, inovar e crescer de forma sustentável. A aposta é que o futuro do trabalho será automatizado e, sobretudo, colaborativo. A dúvida que fica é: sua organização está pronta para esse novo paradigma?
Nicole Davila é desenvolvedora backend e pesquisadora da Zup.





















