Estudo do Iemi revela mudanças profundas no perfil do consumidor, na produção industrial e na participação da moda na economia brasileira nas últimas duas décadas e meia
Nos últimos 25 anos, o consumo de vestuário no Brasil cresceu 42% em número de peças, com uma mudança significativa no estilo das roupas, que se transformaram em produtos mais leves, informais, confortáveis e baratos. A informação consta do estudo “Brasil Têxtil: 25 anos”, elaborado pelo Iemi – Inteligência de Mercado, que traça um panorama abrangente da indústria têxtil, do varejo e dos hábitos de consumo de moda entre os anos 2000 e 2024. “Vivemos um momento paradoxal: nunca se comprou tanta roupa, mas nunca se gastou tão pouco com elas. Isso é reflexo direto da informalidade, da busca por conforto e da massificação de produtos mais baratos, em grande parte importados”, analisou o economista Marcelo Prado, diretor do Iemi e responsável pela pesquisa.
Com base em dados socioeconômicos e industriais, o estudo mostra que, apesar do crescimento de 85% no consumo total das famílias e da elevação de 71% no PIB nacional, o setor de vestuário enfrenta desafios complexos. Entre eles, o envelhecimento da população, a valorização de roupas mais confortáveis e informais, e a forte penetração de produtos importados, que aumentou 585% em volume desde 2000. “O consumidor brasileiro mudou. Ele está mais velho, mais conectado e mais exigente. Busca funcionalidade, sustentabilidade e diversidade, e já não se deixa levar apenas por tendências ou apelos de marca. Isso exige um novo posicionamento estratégico das empresas do setor”, reforçou Prado.
Ainda assim, o setor de moda mantém relevância econômica. Em 2024, o vestuário ocupou o 3º lugar entre os maiores gastos das famílias com bens de consumo no Brasil, representando 3,9% do total de R$ 3,45 trilhões, atrás apenas da alimentação no domicílio (10%) e da aquisição de veículos (4,9%). Outro ponto crítico apontado pelo IEMI é a desconexão entre as marcas e os consumidores. O comportamento de compra tornou-se mais diversificado e atento a temas como sustentabilidade e inclusão, ao passo que as empresas de moda ainda enfrentam dificuldades em gerar desejo e valor percebido para seus produtos. “O maior desafio das marcas hoje é reconectar com o público, entender suas motivações reais e entregar propostas com autenticidade e propósito. Moda, cada vez mais, precisa de significado”, completou o diretor.
Lançado em comemoração aos 25 anos da série de relatórios setoriais chamados “Brasil Têxtil”, o estudo reafirma o papel do setor como espelho das transformações culturais e econômicas do Brasil. “Este é um olhar profundo sobre como o consumo da moda dialoga com a renda, a demografia, os hábitos e os sonhos do brasileiro. A moda não apenas veste o corpo: ela traduz valores, desejos e pertencimentos”, concluiu Prado.