Os programas de diversidade precisam passar por uma avaliação?

Com a participação de CEO da Motivare e de gerente sênior da Ipsos, ClienteSA News debate o estágio atual dos programas de diversidade e inclusão nas empresas 

Nos últimos anos, o mercado tem passado por um movimento de olhar para a questão da diversidade e inclusão, expandindo o horizonte das marcas para que espelhem a sociedade como um todo. Entretanto, em um olhar mais atento, é possível ver dois tipos de empresas. Há aquelas que investem em programas de diversidade e inclusão de maneira intencional, visando o negócio, mas com o propósito de transformar a sociedade para melhor e há também as que vão por esse caminho apenas por modismo ou para constar no relatório fiscal. Esse cenário foi analisado e debatido, ontem (23), na 43ª edição do ClienteSA News, pelos convidados Alain S. Levi, CEO e fundador da Motivare, e Marcio Aguiar, gerente sênior de pesquisas qualitativas e líder dos grupos de afinidade da Ipsos, e os cohosts Vilnor Grube, CEO da ClienteSA e VP da Aloic, Rodrigo Tavares, VP sênior de customer experience da RecargaPay, e Wellington Paes, fundador e CEO do Conexão Customer.

Abrindo o bate-papo, Wellington sugeriu se partir de uma questão que considera central sobre o tema: as métricas de resultados dos programas de diversidade por uma visão de negócio. “É possível metrificar isso?”, perguntou aos convidados. Primeiro a responder, Marcio afirmou ser possível, acrescentando que as empresas estão amadurecendo a respeito do tema, tanto em relação às escolhas que são feitas quanto na medição das inúmeras variáveis envolvidas nessa opção feita. “Apenas há que se levar em conta que a metrificação direta é muito complexa. Ainda não possuímos uma forma de garantir que determinada seleção feita trará os resultados esperados, porque depende do alinhamento cultural da pessoa com a organização, a performance alcançada e outras camadas que entram na equação, como o acolhimento à pessoa, os programas e apoio, etc.”

Na concepção do gerente sênior da Ipsos, é preciso que a empresa possua métricas de inclusão, retenção e bem-estar, e só a partir daí vai se olhar para o negócio. “O brasileiro é muito bom para receber os outros de braços abertos, mas não acolhe no dia a dia. Por isso, cada organização se encontra em um determinado estágio e avanço. Há aquelas, que já estão maduras para receber, acolher, desenvolver e colher resultados para o negócio com essas ações.”

Em seguida, foi a vez de Alain se manifestar, começando por afirmar que gosta de olhar esse assunto por uma ótica um pouco mais amplificada, sempre fazendo perguntas diferentes das triviais. “Sabemos que viemos de um mundo em que o capitalismo perdeu um pouco o rumo e passou a visar unicamente o lucro. Questões como o propósito e os valores deram lugar até à falta de ética. É por isso que, dentro das empresas e na própria sociedade, assuntos como diversidade, inclusão, sustentabilidade e justiça foram ficando para trás.” Por isso, na sua visão, pode-se até medir, mas esse não é o ponto principal no momento.  “O importante é amplificar a razão de existir da empresa e saber se esse fato, por si só, tornou o mundo um lugar melhor para vivermos.”

Concordando com as colocações, Rodrigo aproveitou o momento para lembrar que isso está mudando, com as empresas falando muito mais no assunto, fazendo seus programas de diversidade e inclusão, mas deixou no ar uma pergunta: é possível separar as que fazem apenas por fazer das que realizam esse movimento porque querem ajudar na construção de um mundo melhor? Ao que Marcio respondeu que quando se olha para a intencionalidade, haverá sempre as marcas que conseguirão abrir as fronteiras e serão seguidas por outras. E lembrou de que o preço será pago junto aos consumidores, cujas novas gerações cobram e duvidam até das empresas mais engajadas em diversidade e inclusão. Já Alain lembrou que essas novas gerações impulsionaram o tema e, há alguns anos, o propósito virou moda. “Quando, na verdade, propósito não se cria. Ele tem que brotar da verdade da marca, refletindo o que ela efetivamente é, como um espelho.” Em cima disso, ele mencionou trechos do seu livro “Marketing sem blá blá blá: inspirações para transformação cultural na era do propósito”.

O debate seguiu abordando outras questões, como a educação das empresas para ativar ações a partir desse movimento, o papel crucial das lideranças nesse processo, o fator positivo do momento de polarização na sociedade, entre outras, sempre interagindo com a audiência. O bate-papo pode ser conferido, na íntegra no YouTube, no canal ClienteSA Play, compondo um acervo em cultura cliente que já passa de 3,7 mil vídeos.

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